Sasha e Orlando

" Sasha, como que para tranquilizá-lo, estava mais terna do que de costume e ainda mais encantadora. Raramente tinha querido conversar a respeito de seu passado, mas agora lhe contava como no inverno, na Rússia, escutava os lobos uivando pelas estepes, e, para demonstrar-lhe, uivou como um lobo três vezes. Ele, então, falou dos veados na neve, em sua casa, de como vagavam pelo grande vestíbulo em busca de calor e eram alimentados por um velho que lhes dava mingau de um balde. E então ela o elogiou; por seu amor pelos animais; por sua galanteria; por suas pernas. Encantado com os elogios e envergonhado de pensar como tinha maliciado imaginando-a no colo de um marinheiro vulgar, e gorda e entorpecida aos quarenta anos, ele disse que não encontrava palavras para elogiá-la; mas logo considerou que ela era como a primavera e a grama verde e as águas correntes e, apertando-a mais fortemente do que nunca, rodopiou com ela pelo rio, de forma que as gaivotas e os corvos-marinhos rodopiaram também. E parando afinal, sem fôlego, ela disse, levemente ofegante, que ele era como uma árvore de Natal com um milhão de velas (como as que há na Rússia), com bolas amarelas penduradas; incandescente; suficiente para iluminar uma rua inteira (assim se poderia traduzir); pois, com suas faces brilhantes, seus cachos escuros, sua capa preta e carmesim, ele parecia como se estivesse ardendo com seu próprio esplendor, vindo de uma lâmpada acesa dentro de si."


Virginia Woolf - Orlando

Eloisa Alves
© Todos os direitos reservados