O Caminho da Palavra Amorosa...

O Caminho da Palavra Amorosa...

“ Mas desejava chegar com alguma coisa. Flores? Sim, flores, já que não confiava no seu gosto em matéria de joias; inúmeras flores, rosas, orquídeas, para celebrar o que era, afinal, um acontecimento; aquilo que sentira ao falar de Peter Walsh durante o almoço; e nunca se referiam àquilo; durante anos não haviam falado naquilo; o que, pensou, apertando rosas vermelhas e brancas ( um grande ramalhete envolto em papel de seda) , é o maior erro do mundo. Chega um momento em que se torna impossível dizê-lo; fica-se demasiado tímido para dizê-lo, pensou, embolsando o troco e dirigindo-se, com o grande ramo aconchegado ao corpo, para Wentminster, a fim de dizer, com aquelas mesmas palavra( pensasse ela o quisesse a seu respeito),enquanto entregava as flores a Clarissa: “ Eu te amo”. Por que não? E na verdade era um milagre, quando se pensava na guerra, e em todos aqueles pobres camaradas, que tinham toda uma vida diante de si, e agora enterrados, e quase esquecidos; um milagre. Ia ele assim, através de Londres, para dizer a Clarissa, com aquelas mesmas palavras, que a amava. O que nunca se diz, pensou. Parte por preguiça; parte por timidez. E Clarissa...era difícil pensar nela; exceto por impulso, como ao almoço, quando a vira com nitidez perfeita; com toda a sua vida em comum.”

 

Virginia Woolf- Mrs. Dalloway

Eloisa Alves
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