Quem o censurará?

Quem o censurará?

“ Quem o censurará se, assim em pé por um momento, ele se compraz com a fama, com patrulhas de buscas, com montes de pedras erguidos sobre seus ossos por seguidores agradecidos? Finalmente, quem censurará o líder da condenada expedição se, tendo se aventurado ao último extremo e usado toda a sua força até a última fração e adormecido, pouco se importando se vai acordar ou não, ele agora percebe, por alguma picada dos dedos dos pés, que está vivo, não se opondo, no geral, a viver, mas precisa de simpatia, e uísque, e alguém a quem contar logo a história de seu sofrimento? Quem o censurará? Quem, secretamente, não se regozijará quando o herói se despojar da armadura, e parar junto à janela e olhar para a mulher e o filho, que, muito distantes a princípio, gradualmente se tornam próximos, cada vez mais próximos, até que os lábios e o livro e a cabeça estão claramente diante deles, embora ainda adoráveis e não parecendo familiares devido à intensidade de seu isolamento e à vastidão das eras e à extinção das estrelas e, finalmente, colocando o cachimbo no bolso e curvando sua magnificente cabeça diante dela – quem o censurará por render homenagem à beleza do mundo?"

 

Virginia Woolf – Ao Farol ( pág .37)

Editora Autêntica- Tradução Tomaz Tadeu

Eloisa Alves
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