Criancinha ! Ainda me lembro como se fosse hoje, o dia quente
de verão no parque, ao entardecer. A brisa carregando pra longe
balões da criançada em alvoroço, quando surgiste, com aquele
ramalhete de flores coloridas em uma das mãos, me chamando
pra brincadeira de roda
Nessa ciranda infinita de arremedos a fim, nesse teu olhar de
vôo rasante, que torce os espíritos, quando me olha assim
e esse peso do corpo que me pareceu mais leve, deixando minha
alma parar de se insurgir, contra a premissa do amor que abrande
temperos
Não ? Não me crês ceriancinha ? Por essa revolta que reflete em teu
marejado olhar !
São insuspeitas suspeitas, de lírios orvalhados como em
colírios, deixando transfigurados jardins encharcados . . . enlutados
Não faça mais isso não, me abrace, me beije e me chame de novo
pra brincar
Diga, mais uma vez bonitinho, que eu sou triste mais engraçado
e faça o jogo de pique e de se esconder, que contrariamente revelará,
não ser mais possível não, ficar sem te ver, sem te tocar
E me extasio no teu soninho de anjo em carinha de paz,
enquanto seres de luz ensaiam uma dança em torno de ti, nos
resguardando em vigília . . . mediando nossa exaustão
Nossa permuta é de alegria pelo teu chorinho de criança . . .
criancinha . . . aquietai-vos !
Amanha no eclodir do amanhecer, despertarás em efusão, na
disputa desigual contra os raios de sol. Eles se esconderão ao final do dia ante tua
contínua trajetória enternecedora. Sofres a minha falta, mas por pouco tempo criancinha,
é a vida que as vezes convoca e me chama
Chama breve que queima eu sei e nesse impasse entre o impossível e o real criancinha,
então verás que se revelará na surpresa de febris evidências, no mais profundo de nós,
exaltados pleitos . . . mas não tem que haver sofrimento um pouquinho em nossa volta ?
Criancinha agora ficou tarde, já é madrugada . . . vem ! Mais um dia foi nos concedido pra te afagar,
pra me tornares teu pequeno principe
Pare com esse teu ricto de beicinho
Oscilaremos entre o desejo e o sono. Deixa tudo na decisão de nossos corpos criancinha e vem ficar
juntinho de mim
Eu não vou mais embora não . . . eu vou acabar é cantarolando uma canção de ninar e simplesmente ir te
vendo
até
que os deuses abram os braços em nós e te façam dormir . . .
criancinha !
© Todos os direitos reservados