É tão comum esquecer de voltar
e o que era uma volta, se torna "definitivo"
mas mesmo o "definitivo" tem hora para acabar
Acabo definitivamente me esquecendo do motivo

De voltar, de andar, de estar e de me amar
tanto tempo ocupado, escutando sua história
consentido na maioria das vezes sem pensar
e o que sobrou disso tudo na memória

Um vazio deprimente, uma saudade inconsciente
já não sei se me preocupo ou me ocupo
se os dias que voam ou sou eu quem piloto manualmente
ou estou no piloto automático me obrigando a estar no grupo

Tantos grupos para preencher um único vazio
me pego chorando, acinzentando os dias coloridos
buscando uma presença que quase sempre esteve por um fio
fui tão ausente, que os dias que me encontro são os mais doloridos

Dor que paralisa, fazendo eminente a permanência do caos
no meu quarto não há mais descanso, na sala não se pode estar
na cozinha não se faz o alimento, na cama não se encontra amor
a casa está pronta para a mudança que preciso em mim

Essa mudança sem caixas, sem amarras, sem caminhão
e sim interna, pessoal e experimental
deixando o vento entrar, a luz bater e a água limpar
mudando meu modo de estar, ser minha própria casa e me amar

João Ramiro
© Todos os direitos reservados