À noite, adormecido os olhos,
Enquanto o silêncio valsava com as horas,
O tempo urgia.
Sob o efeito do frio,
Que paredes,
Que lençóis,
E que corpo alvorecido protegia o homem que levantava.
Encriquilhado, mal ouvia o gorjear dos pássaros;
A chuva, que lhe endurecia as cadeiras;
O escuro que lhe esgueirava à cegueira,
Deixava-lhe de mau humor o dia inteiro.
Não se lembrava de coisas e quando falava,
A rouquidão da voz baixava a tonalidade,
E pouco se fazia entender.
Tudo lhe impacientava e mesmo sabendo andar,
Acorcovava-se num cajado, que lhe ajudava a caminhar.
Não distinguia mais o dinheiro;
Não sabia bem o sentido da beleza;
Sua musa, uma moça na flor da idade só servia para lhe preocupar.
O carro, as roupas e os perfumes de nada lhe valiam.
Passava horas a fio...
Olhando o tempo passar.
Sozinho nos fins de semana,
Já não sabia se era segunda ou sexta...
Com lágrimas nos olhos,
Naquele dia se deu conta da idade,
E que o tempo passa depressa,
Como uma única oportunidade de viver.
Ouvir dizer que ele pode ser como você...
Curtiu o prazer, mas do amor de verdade,
Só o que conhece é o sofrer.

Raimundo Alberto Tavares Amoêdo
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