Num lance imprevisto, em meio ao nada, respirei o espírito de todos os poetas. Repleto da plenitude deles, os verbos infinitos bailavam livremente no vão absconso da minha língua flácida; e não havia quem no mundo me forçasse a discrição. Era a pirotecnia de todas as rimas da história, o samba dos vocábulos sem preâmbulos, nus, em deliberação carnavalesca e irreprimível.
Já sentiu?

O espetáculo léxico vibrava audível, mas tão somente na amplidão universal do meu eu; do meu ego; do meu eco; do meu elo com essa realidade superior e livre de formas. O "mundo", como costumam chamar, marchava uníssono, indiferente, na melancólica monotonia da rotina apoética.
Quem acreditaria?

Do protesto espontâneo rabisquei um verso inequívoco, absoluto, mãe de todos os poemas; a pena vertendo o sangue e o suor dos mártires; as lágrimas lavando a honra da multidão das almas incompreendidas. Nasceu a arte pura, a arte bruta, a arte distante, estanque, estandarte, baluarte, disparate, disparar-te. Uma centena de idéias materializadas cantava as boas-vindas ao poema Todo-Virtuoso, e uma chama se acendeu no extremo oposto do Universo.
A vida se redescobriu.

Na rua, todos cantavam um hino de amor, no preciso momento em que acordei...
Desejando a tudo o que vive, ao vivo ou no papel, nada menos do que (hoje e sempre) um sonho pra sonhar...