Eu peguei o menino no colo e sussurrei:
-Crescer dói...

Eu só queria que ele soubesse antes, sabe?! da bicicleta sem rodinhas e do joelho ralado; de quando se entende que grátis não existe; da zombaria na hora do recreio; de quando o amigo mente; de quando o amigo acha que a gente mente; de ter de comprar a própria comida; de ter de comer a própria comida; de não ter tempo; de ver alguém se esquecer de você; de a promoção acabar bem na sua vez; de não saber o que fazer; de saber o que fazer mas estar petrificado de medo...

Que houvessem me dito! era meu brado mudo. Quem disse que eu mergulharia na idade adulta? O tempo, esse velho gagá, ia ter de dar um jeito de esquecer de mim... ah, ia!...

Fica aí, menino! meu olho gritava. É sorrindo assim que você faz um mundo melhor! Esse sorriso não volta...

Tremi pensando que ele me fitava. Um adulto dentro dele me ouvira? Um eco lá do profundo repetira: eu compreendo, amigo...?

-Só queria uma moeda, tio...
Ufa, ele não entendera. Quem dera não entendesse pra sempre...!

-Toma duas!
O menino se foi, mas aparentava estar um pouco mais alto, maduro. Tinha crescido na minha frente! Não escapara...
Pobre menino...

Contei que ele se parecia um pouco comigo?!