Ah! se eu pudesse me dar ao luxo de perder a cabeça, de gritar forte que meu mundo acabou e eu sobrei sozinho nos escombros...

Ah! se meu rosto pudesse transparecer o lamento da alma, deixando cair a máscara da tranqüilidade pra mostrar o pulso forte do coração desacelerando, desfalecendo...

E se uma confederação cósmica sintonizasse o meu uivo mórbido? e se percebesse na decadência do meu fôlego a efemeridade da vida, a volatilidade da intenção mais nobre evanescendo no confronto com a muralha do egoísmo alheio? As galáxias marchariam ré, no desestímulo da vaidade natural e inerente das coisas, e quem sabe em mil anos-luz quadrados ninguém seria capaz de encontrar sequer um sorriso...

Ah, mas sobraria aquele sorrisinho resignado, que embute uma trilha sonora sarcástica, modorrenta, repetitiva, como fora um mantra: é vão... é vão... é vão...

E vão dizer que a vida toda não é uma grande piada? Ah! se eu pudesse ser ouvido pelos sábios, atemporais, a corja teria de admitir: não deu certo pra mim... Eu era a exceção; a minha fatídica carcaça sem esforço escorregava pra fora do diâmetro das previsibilidades...

Ah! se eu pudesse... nem escrever...

E o mundo inteiro apagasse as luzes, e a voz de um louco não incomodasse mais ninguém.

Ah, mas e se alguém dissesse: "lê pra mim..."?
Porque alguém sempre diz...