Ah que saudades da infância
Que se perdendo a distância
Se vai qual nuvem que passa.
Quantas ilusões e sonhos,
Que tempo feliz,  risonho
E quanta alegria e graça.
 
Como tudo era tão lindo
Como eu vivia sorrindo,
Que vida feliz eu tinha,
A correr o dia inteiro,
Subia nos cajueiros
Desde manhã à tardinha.
 
Descia morros, subia,
Atrás de animais corria
Até perde-los de vista,
Depois voltava pulando
E quase aos gritos cantando,
Brincava de trapezista!
 
Como eu adorava o mar
E como era bom pescar
Pequenos peixes de cores!
E quando a maré baixava
Que bom! E eu apanhava
Lindas conchas multicores!
 
Nas noites de São João
Eu via soltar balão
E quando papai chegava
Sempre trazia rodinhas
E também as estrelinhas,
Que feliz que eu ficava.
 
E foi com grande tristeza
Que parti pra Fortaleza
Se chorei? Como jamais!
Quantas saudades sentia
Das matas onde eu corria,
Das praias, dos coqueirais,
 
Do meu mar que era tão lindo
Dos meus rochedos infindos,
Das nuvens brancas no céu,
Das noites de chuva fria,
Das histórias da titia,
Das aves voando ao léu...
 
Mas hoje eu sinto saudades
Da  rua, das amizades,
De tudo que lá ficou:
Da minha casa pequena,
A Praia de Iracema,
Que pena... o tempo passou.
 
Passou sem que eu sentisse
E às vezes eu fico triste
Pois tudo perdeu a graça,
Fiz castelos que ruíram,
Meus sonhos? Eles sumiram
Assim... tal qual a fumaça.
 
Como eu recordo a infância
Que se perdendo a distância
Vai assim, rapidamente,
Quantas ilusões e sonhos,
O tempo feliz, risonho
Só ficou em minha  mente..

Tempo, tempo
muitas vezes lamento porque passas
quando tudo perde a graça...
Nair Damasceno
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