NAS ESQUINAS DO TEMPO

NAS ESQUINAS DO TEMPO
QUEM SOU EU?
Pergunto-me com frequência, quando no labirinto do tempo
me procuro por entre ideias e frustrações... e não me encontro!
Arrasto-me pelas esquinas do tempo e sinto que perdi o sentido da vida:
Que tenho de mim para além da morte?O nome que me deram?
Para além do corpo, que tenho de mim que possa dizer que é meu?
O corpo é mudança constante e sempre foi mudança:
a minha mão nasceu pequena, cresceu, tornou-se forte e saudávele há-de envelhecer,
ficar frágil e morrer num corpo que é meu. Que digo que é meu…
mas que se me escapa nas esquinas do tempo.
Que terei de mim, sem me perder no labirinto da vida?
Que tenho de meu que possa segurar,colocar uma coleira e uma trela como faço ao meu cão
e dizer que é meu? - pergunto-me, quando vagueio por entre ideias e frustrações.
Quem sou eu?Grão no cosmos? Serei apenas… grão no cosmos?Claro que sou grão no cosmos.
Basta olhar para as estrelas e perder-me na imensidão do universo.
Serei apenas pó levado pelo vento?Talvez… mas acho pouco! Não faz sentido para tanta criação!
Que acrescenta um grão à formação de uma nova estrela?
O cosmos continuará imenso e sem desvio para um novo big-bang… mesmo sem o meu grão.
Serei Alma? Serei Espírito?Talvez, embora não saiba o que isso seja.
Há almas para todos os gostos: almas de deus, do diabo, almas perdidas, almas danadas,
almas boas e almas penadas e espíritos malignos por todo lado,
mas todas pertencem a corpos que se arrastam pelas esquinas do tempo
e todos se interrogam quanto ao futuro.
Quem sou eu?
Cérebro? Conhecimento?
Eu vim das cavernas e cheguei ao chapéu-de-chuva.Construí a roda e movimentei o mundo.
Derrubei a árvore e naveguei por mares desconhecidose cheguei à terra do sol nascente.
Quem sou eu?
Inteligência? Ciência?
Que ficará de mim depois do vento me levar?
Amor? Ódio?
Com as mãos dou ao mundo o meu filho e com as mãos disparo o zagalote que o há-de matar.
Com as mãos levo conhecimento ao gentioe com as mãos fustigo a liberdade num corpo feito escravo.
Onde fica a rua direita que me leva ao conhecimento?
Onde fica a esquina que me leva à sabedoria?
Nas esquinas do tempo vagueio por entre ideias e ambições,
tenho dúvidas, hesitações, alegrias e aflições…e não tenho o dom da natureza.
É esta a minha grande fraqueza!
Quem sou eu?
Grão? Alma? Inteligência?
Não sei!
Que fica de mim, depois do vento me levar?
Amor? Paz? Guerra? Indigência?
Não sei!
Não tenho o Dom da Natureza.
Fica-se pela incerteza a minha Ciência.
Não sei que resposta dar.

Poesia de Angelino

santos silva
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