" A Beleza e a Quietude Reinavam"

" A Beleza e a Quietude Reinavam"

Agora, dia após dia, a luz voltava, como uma flor refletida na água, sua imagem nítida sobre a parede oposta. Apenas sombras das árvores, florescendo ao vento, faziam reverência sobre a parede, e, por um instante, ensombrecia a poça em que a luz se refletia; ou os pássaros, voando, faziam uma suave mancha adejar ao longo do assoalho do quarto.

Assim, a beleza e a quietude reinavam, e juntam compunham a forma da beleza mesma, uma forma da qual a vida se retirara; solitária como uma poça de tardezinha, muito longe, vista de longe de uma janela de trem, desaparecendo tão ligeiro que a poça, pálida na tardezinha, mal e mal é subtraída de sua solidão, apesar de ter sido vista uma vez. A quietude e a beleza apertaram-se as mãos no quarto, e entre jarros com suas mortalhas e as cadeiras revestidas, nem mesmo a prece do vento e o delicado nariz dos úmidos ares marinhos, roçando, farejando, iterando e reiterando suas perguntas -“Irão vocês extinguir-se? Irão vocês perecer?”-, conseguem perturbar a paz, a indiferença, o ar de pura integridade, como se a pergunta que faziam dificilmente precisasse ser respondida: nós permanecemos.

Nada parecia conseguir quebrar esta imagem, corromper esta inocência, ou perturbar o oscilante manto de silêncio que, semana após semana, na sala vazia, tecia em si mesmo os gorjeios cadentes dos pássaros.

 

Virginia Woolf- Ao Farol

Eloisa Alves
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