Carta para ninguèm

Aqui, deitado, a espera da inspiração. A danada não vem!
É caprichosa...
 
Mas eu quero. Preciso escrever...
 
 
A vida é uma estrada tortuosa, cheia de desvios, descaminhos e encruzilhadas.  Há muito, numa dessas encruzilhadas, peguei uma vertente que me levou para bem longe da poesia.  Uma dura escolha, embora não muito difícil.
De um lado: o certo, a família, a paz e o bem estar de todos aqueles por quem se é responsável;
Do outro lado: A vida.
 
O Rio de Janeiro faz um calor infernal!
Eu aqui. Às voltas com um monte de palavras e sem saber direito o que fazer com elas.
Há muito, abri mão da vida, por amor aqueles que dependem de mim.
 
Hoje não vivo e por isso não sinto;
Hoje não sinto e por isso não escrevo;
Para suportar a ausência de mim mesmo, remédios que entorpecem a mente e a alma, aliviam a dor;
Não muito tempo depois, meu avô faleceu.  Meio zumbi, ainda assim, fui o suporte que manteve a família unida.
 
Pensei: Viu? Fiz a escolha certa!
 
Menos de um ano depois, meu tio faleceu.  Novamente, fui o morto-vivo, responsável pela sobrevivência de todos! (mais remédios.  Maior entorpecimento.  Acho que foi nessa ocasião, se bem me recordo).
 
Pensei: Com certeza, fiz a escolha certa!
 
Nem outro ano se passou, e lá se foi meu pai (essa então foi foda)!
 
Senhor:  guardei a tua palavra, cumpri teus mandamentos e acalmaste as águas, durante a tormenta e os ventos se sujeitaram à tua vontade.
Veio a bonança e  o refrigério e aqueles que me confiaste sobreviveram.
Menos eu...
 
Hoje, completamente entorpecido, vegeto às margens da vida que um dia vivi;  a sombra do ser que um dia fui!
 
Nunca cheguei a cogitar que tivesse feito a escolha errada.
Fiz o que precisava ser feito!  Como meu pai faria.
Como todo homem de verdade deve fazer...
 
A imaginação não voa mais;
O coração não sente mais;
A alma, acorrentada, não se eleva!
 
Mas, pelo menos, as vezes, não dói tanto...
 
BRUNO  09/01/11         17:24

 

Postando textos antigos, alguns inclusive, já postados anteriormente no site, mas que nunca chegaram ao conhecimento daquela para quem foram realmente escritos.

Pretendo corrigir esse erro a partir de agora.
BRUNO
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