É- nos maldição a cima providência

Quando não temos chave da ventura,
Aos céus sobejos, o que a boca abjura,
Aos homens, desengano da ciência.
 
O grande dano da nossa existência,
Feição primeva  de toda amargura,
É que a alma se alimenta de censura,
E cobram os defeitos a evidência.
 
Assim perseguimos a vida inteira
O prazer afiançado por direito,
Converso em trânsfuga, abjeto, astuto.
 
O fruto amargo da nossa cegueira,
Apanhado da essência no eterno eito,
Jaz colheita perdida do absoluto.

Elias neri
© Todos os direitos reservados