Assim dizia Maiakóvski: Você não pode deixar ninguém invadir o seu jardim para não correr o risco de ter a casa arrombada.
 
Mas e se tua casa for uma tenda
Como aquelas paupérrimas dos beduínos,
Soltas num chão de areias imensas,
Sem sequer possibilidade de ramagem?
 
Mas e se tua casa for uma palafita
À deriva num rio de indefinidas margens,
Sustentada apenas pelo espelho cristalino
De águas sedentas pela imensidão oceânica?
 
Mas e se tua casa for um dirigível aquecido
Pelo espírito incendiário de teu destino,
A circundar o infinitude do universo
A espargir o pólen perfumado dos jardins?
 
Mas e se tua casa for um jardim babilônico
Suspenso na retina de teus olhos
Seguro apenas pela singeleza d’alma
E que exala a fragrância dos jasmins?
 
Nestas circunstâncias não há que se falar
Em arrombamento, sequer em invasor,
Pois tudo no ser são jardins em flor.