Pretérito mais-que-perfeito

Visita-me educadamente a dor,
recita em pretérito mais-que-perfeito
as saudações, os cumprimentos.
Trouxe-me um presente,
retalhos e agulha de costura
para remendar, recobrir
com nova estampa o coração.
Vai perambular mulambo!
Sorrindo, chorando, celebrando o farrapo,
como tantas vezes foi e tantas mais será.
Se a loucura do mundo fosse a minha
viveria bem, dormiria melhor.
Saberia decor como reconstruir-me,
mas não sei, talvez, nunca saiba.
Mesmo que não caiba nesse peito
o direito de explodir em cacos,
a sobrevida e o desejo agora estão fracos.

No dia partido ao meio,
Na noite que parte a lua
Faz parte a sua falta
na cama, nos olhos, na rua.

Visita-me educadamente a dor,
reclama o fino trato de hospedagem
pagara caro a passagem até seu destino.
Trouxe-me um presente,
baralho de cigana vidente
para prever, antever
os auspícios futuros.
Vai à sessão o consulente.
Sonhando, ansiando, imaginando a previsão,
como tantas vezes foi e tantas mais será.
Se a certeza permeasse certos dizeres,
viveria bem, dormiria melhor,
saberia decor prevenir essas feridas,
mas não sei, talvez, nunca saiba.
Mesmo que não caiba nesse peito
a esperança do efetivo e claro porvir
hei de mentir felicidade para existir.

No dia partido ao meio,
Na noite que parte a lua
Faz parte a sua falta
na cama, nos olhos, na rua.

Partida, dor da perda...

São Paulo