Quem pode
culpar os teus olhos pela paixão despertada em mim?
Quem pode
culpar as estrelas se nunca viram o negrume da noite?
Arrasto uma asa sangrando
desde aquela primeira vez que eu te vi
O perfume dos teus cabelos
escreveu hieróglifos em minha mente.
 
Uma profusão de borboletas prateadas
inundou a minha alma-menina
E os meus olhos se fecharam
para as flores de outros jardins
Passei dias e dias me alimentando de rosas,
bebendo a luz da lua
Até os fantasmas suspenderam o “buuu!”
em respeito ao meu amor.
 
Mas quem pode
culpar o teu corpo pelo fogo ateado em meu sangue?
Quem é capaz de decifrar
os códigos gerados entre os becos da saudade?
Menina!
Nunca mais o som da chuva terá a mesma melodia
Nem o vento será capaz de derrubar
as árvores que plantaste em meu solo.
 
Foi-se a pipa colorida
conduzida pelos heróis dos quadrinhos roubados
Foi-se a noite
repleta de zumbis dançantes que rodeavam minha cama
Veio a madrugada
pincelada pela mão de anjos loucos e endemoninhados
Dando origem a última geração
de homens românticos e apaixonados.
 
Mas dói na alma saber-se inconsumido,
incompreendido, levantando cercas
e arrombando telhados
como um ladrão desesperado,
raspando o asfalto das idéias
em busca de uma maneira de
envolver-te em meus braços.
 
Menina!
Escuta a canção
que a tua boca compôs
quando abriste um sorriso  na mesa de dominó,
abre os braços
e recebe o selo que te elege o ápice da criação
Não desprezes jamais um coração apaixonado.
 
 
 

henrique ponttopidan
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