Pranteio uma saudade estranha, de nascença; de entranha, de ausência, de verdade. Tamanha a necessidade do indefinido, indeterminado, que baqueio travado, deprimido, triste, em bloqueio. Parece uma saudade do que não existe, um vazio que aparece e invade e subjuga; mas é uma tristeza boa, que convida à fuga, que não aniquila, que ecoa a certeza tranqüila da esperança irracional numa evolução não-garantida, não-prevista (não há razão que resista a essa confiança gutural). E por alta que seja a ambição, ninguém na terra alcança o bem que supra essa falta no coração; e nada ocupa com perfeição o vão que encerra a ausência natural, não-premeditada, sem solução. Afinal, toda evolução se baseia na cruzada que visa o que o ser anseia; e se a realiza completamente, o ente suaviza a própria lapidação e se regozija na estagnação; mas se sobra um anseio, ele acha um meio de pedir mais, e se cobra, e não se deixa em paz, e se queixa, e melhora, e se refaz.

E se é poeta, aflora do peito essa meta intangível, e um poema imperfeito nasce, sofrível; e a rima sem jeito canta o destino impossível. Mas a beleza, o fascínio da obra-prima, é justamente sua natureza incompleta, que afirma o anseio da mente do poeta. Quanto mais se aproxima do verso perfeito, menos satisfeito ele se considera; e mais ele espera; e menos descansa; e quanto mais se atreve, menos alcança...

E ainda mais ele escreve!