No declive de agora

Perpassa-me o tempo
na vagareza do pensar.
O vento que me corre
pela casa das idéias,
desusou minhas pernas,
evadiu-me a direção.
Chão de ir, não tenho.
Vou e venho ao nada.
Na estrada que não vejo,
almejo apenas querer.
Em face a isso,
cobiço novo rosto,
nova cara de bater.
Como saber de amanhã
se hoje já é tarde?
Corvarde sol poente
que não arde, nem sente.
No declive de agora,
se demora a noite
que me deita no peito,
soma-se aos negros olhos,
à pele de negra tintura.
Tanta rasura de sombra
me assalta, me assombra.
Estreitada reza dizia,
chiava em canto de boca,
percebia pouca fé.
Até que amanhecia,
mas do dia, morria a vontade.
A caridade não vinha,
vinha lá mais idade.
E os anos todos sabiam
que mais anos viriam,
tão logo pudessem chegar.
Sim.
Perpassa-me o tempo
na vagareza do pensar.

Uma fervura de ervas reflexivas, amargas tais como boldo.

São Paulo