Ressurgindo na expressão

Filhas e filhos da vizinhança

Gente vinda de todo chão

O planeta é nossa herança             

E nossa vitória é a comunhão

Os recomeços são incontáveis

Entre as marcas dos prantos

Tornando terras agricultáveis

Vencendo febres e quebrantos

Ainda que o deletério

Ensine violência na condução  

Usando miséria como critério

Fazendo gente sem condição

 

Como a glória do mérito

Que naturaliza a desigualdade

Romantiza o pretérito

Conta o conto pela metade

Ainda se sabota a civilidade

Tal qual a devastação

Como quem grila a propriedade

Como quem cerca o coração

Como a tal justiça social

E a fome nas calçadas

Como a loucura do capital

Como as lavouras envenenadas

 

Como quem se farta da exportação

Como quem assalta no caminho

Como quem enriquece da exploração

Como quem empobrece outro ninho

Ainda se prega guerra na morada

Ainda se fere a esperança

Ainda se faz gente maltratada

Ainda se lucra da matança

Se o conforto te veste

Vista também quem habita

Já que o tempo sempre verte

E o que verte sempre palpita

 

E o que palpita é coração

É receber os sentimentos

É também ressurgir na expressão

É percorrer aflições e tormentos

Aprendendo de si mesmo

Aprendendo de si mesma

Como rio que não vai a esmo

Como água que não é a mesma

Que a ganância se envergonhe

E que cada nação a rejeite   

Que a ambição não nos engane  

E que mais gente se respeite

 
R. Quiroga