A MAIS BELA PALAVRA

Essa mania de transferir versos, 

torná-los submersos quando muito se fala,

mandados pelo correio aos mais discretos

signatários de poemas escuros que se calam

quando questionamos esse mundo absurdo,

que se perdem entre armas e armadilhas,

entre imensas ilhas de carne e osso,

esses olhos fundos da poesia insone,

que tem sede, que tem fome de pessoas,

de conhecê-las dentro de suas bolhas,

os últimos que mandei devolveram-mo

por falta de decoro,

havia muito sangue, muito choro,

palavras escolhidas nas ruas e quintais,

encharcadas de malícias e desejos animais,

espalhei-as ao vento assim como fazem aqueles

que nesta vida tem pouco do muito tempo que lhes foi dado,

tenho-as por aí visitando ermos lugares e pessoas mais ainda,

bebendo da água que desce ao pé da montanha,

sim, sei, são palavras estranhas,

algumas quase já sem cor,

a mais bela, se não me esqueço,

chamo-a de amor...

 

 

 

Prieto Moreno
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