Venho do ventre agrestino

Da brisa fina e fria...

Do sol nordestino

Esturricando o dia

Do tibre agúdo do sino

As seis horas Ave- Maria !

 

Venho do cheiro da catingueira

Da seca que acende o tacho...

Na caatinga e capoeira

cinzas do seco riacho

Estrada só de poeira

Onde espinho dá de cacho !

 

Venho da aridez do pó

Grito de pedra e quentura

Amarra,laço e nó

Pés descalço e Pedra dura

Da fome que causa dó

onde a fé mata e cura !

 

Venho da cacimba lamacenta

Lágrimas que saiem minando

Tristeza correndo lenta

Pau de arara sai chorando

Cruz na estrada cinzenta

Onde se morre rezando !

 

De onde venho meu Deus...

Só o sol sabe das horas...

Em que me deito e levanto.

Só o mar sabe do sal...

Que nos meus olhos é pranto

E as pedras só sabem...

Porque escultam meu canto!

 

 

Carlos Cintra
© Todos os direitos reservados