Meu olhar colhe,

o choro que me amarga

construindo olheiras,

minha face descortinada

nas palavras derramada,

minhas pétalas

ainda em broto arrancadas.

 

Colhe a gota de orvalho

antes que ao chão ela alcance,

os dias que são só meus,

onde o lume do sol não se apaga,

e as nuvens cheias apenas regam.

Colhe o ponto desapercebido

no meio do papel,

conjugando a ele a alcova

dos meus segredos.

 

Colhe as cores de Almodóvar

nas tardes quentes de domingo,

os sopros cálidos

que me impulsionam,

a contração da dor que me trava,

o parolar dos pássaros como acalento.

 

 

Colhe as bruscas marcas do querer,

os doces frutos do amar,

as sucessivas tentativas

das folhas no outono

ao dissabor do vento.


 

Colhe quem de longe me olha,

e em mim sendo,

o perceba.


 


 

Cris Campos                                                                                                                                                       

Cris Campos
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