I
Doridas saudades trago na lembrança
Do tempo que vivi quando criança
Onde senti fulgor, frescor e esperança
E hoje por tempos vividos e sofridos, envelheci
Resta-me apenas enfado das andanças
Que em estradas e ruínas tropecei
Velha, cansada, desgastada, o que me resta
É pensar que nada consegui, nada alcancei.
 
II
Os planos na juventude arquitetados
Se foram ao léu, por ventos levados
Como era preciso, não os estruturei
Em frágeis castelos de areia os formei
Sonhos venturosos e fúteis planejei
Foi em vão, nada consistente acontecera
Foram arroubos próprios da juventude
Sonhos de amores, ilusões e asneiras.
 
III
Agora plácida, calma e bem vivida
Vejo com tristeza ilusões perdidas
Empreguei sacrifícios e empreendi tolices
Envergonho-me até do que não fiz
Empenhei-me em coisas tão banais
Conseguindo amargos dissabores
Colhi o que plantei e tive o que não quis
Hoje trago n’alma, apenas cicatriz
 
IV
Foi tempo perdido, nada alcancei
Sonhos renhidos estraçalhados ao chão
Pisados, esmagados e amortecidos
Que por meu cruel destino foi traçado
Quando sonolento e com descaso o escrevera
Nem se quer pensara o mal que me causava
Nem calculou por alto o meu sofrer
Fazendo-me do amor, ETERNA ESCRAVA!
 
Livro: Inspiração Poética