A PESCARIA-(conto-parte II) LEIAM PRIMEIRO A PARTE I

Quando avistaram a lagoa que ficava numa baixada perceberam que já havia alguns pescadores então o Tunico falou para o Jair, tá vendo seu cachaceiro por tua culpa a gente vai pescar no sol no que o Jair retrucou dizendo, nossa a minina tá com medo de se queimar. Havia uma grande figueira as margens da lagoa que era o local predileto dos dois amigos e também de mais um monte de pescadores da comunidade, quem chegasse primeiro tinha o privilegio de sua sombra. O Jair continuou provocando o Tunico: Esqueceu o bronzeador “boneca”? e caía na risada. Firmino e Gilberto eram os dois pescadores que “tomaram” o lugar do Jair e do Tunico em baixo da frondosa figueira e aproveitaram para tirar um “sarro” dos dois “construtores”. Olha quem tá chegando Gilberto, os pescadores de “lambari” e dirigindo-se ao Tunico, Firmino continuou provocando, se o Sol estiver muito quente é só chegar aqui na sombra que eu deixo você tomar conta da minha vara, kkkkkkkkkk, e ria, mas o Tunico era mestre quando o assunto era “sarro” e já emendou o troco. Sabe Firmino, eu sei por que você chegou primeiro na lagoa, antes de acordar o Jair eu passei na tua casa, chamei, chamei, e a Dona Cida saiu só de camisola pra me atender e disse que você não dormiu em casa, mas ela tinha preparado um café e me convidou pra comer com bolacha, por isso que eu me atrasei. Esse tipo de brincadeira era comum entre os pescadores daquele gostoso recanto e ninguém se ofendia, pois a amizade sempre prevalecia e enquanto o Tunico ria, o Jair completava o “sarro” dizendo que iria almoçar na casa do Firmino. As gozações iriam continuar por todo o dia, pois os dois amigos acabaram se ajeitando ali mesmo perto da figueira e se prepararam para dar inicio a pescaria. Era preciso silencio para não atrapalhar a pesca e por uns cinco minutos isso aconteceu, foi o tempo suficiente para o Gilberto fisgar o primeiro peixe, aliás, ele vencia quase todas as competições, os pescadores até o chamavam de “vara doce”, era um tambaqui de uns dois quilos mais ou menos que provocou o maior alvoroço nas águas turvas da lagoa, e os costumeiros comentários dos colegas de pesca. O Jair olhou para o Tunico e já esbravejou p... que o pariu, o “vara de mel” já começou. Na seqüência foi o Firmino quem fisgou um belo piau e falou pro Tunico, quer dar uma pegadinha pra sentir o “bruto” e ria. As horas passavam. Todos os pescadores que estavam ali, cerca de uns trinta já haviam fisgado algum peixe, menos o Jair e o Tunico. Seria o tipo de isca perguntavam-se. Houve uma pausa para o almoço e as brincadeiras continuaram, como era uma festa, alem dos pescadores muitos curiosos iam somente para se divertir e passar o tempo naquele local que de fato era muito gostoso. Havia barracas de venda de bebidas e salgadinhos, mas os pescadores mais “manhosos” costumavam levar panelas e talheres para fazer o próprio “rango”, e os nossos personagens eram alguns deles. Tunico era um excelente cozinheiro de “beira de rio” e preparava um “guisado” de peixe que fazia muito sucesso entre os companheiros, mas para isso precisava do peixe e nem ele nem o Jair conseguiram fisgar um mísero lambari naquela manhã, então o Firmino e o Gilberto aproveitaram a oportunidade para continuar com as brincadeiras. Gilberto, disse o Firmino, o que você acha de eu dar um piau para o Tunico fritar? Parece que ele tá meio amarelo, deve ser fome, né? Tadim dele não pegou nem um lambarizinho, mas olha, tem que dar um pedacinho para o Jair também. É Firmino, vamos ajudar os “pobrezinhos”. Após o repasto, algumas pingas e um pequeno cochilo, porque ninguém é de ferro, lá estavam nossos intrépidos pescadores de volta à ação. Além da mesma idade o Jair e o Tunico possuíam outra coisa em comum, ambos usavam dentaduras e com o desgaste pelo uso ficavam meio soltas na boca dos sertanejos o que se percebia claramente quando conversavam, mas isso não era problema para eles, pelo menos até aquele momento. A pescaria seguia tranqüila, as brincadeiras continuavam, mas o Tunico e o Jair eram os únicos pescadores sem peixe do feriado. O Sol já se preparava para ser substituído pela Lua quando o inusitado aconteceu, peguei, disse o Jair, peguei, e é grande, é muito graaande, nossa que bitelo, vem cá danado, você não vai escapar e quando disse escapar, escapou, não, não o peixe, escapou a dentadura do Jair e caiu dentro da lagoa, mesmo assim ele não largou a vara e foi ajudado pelo Tunico, era um tambaqui enorme, de uns sete quilos mais ou menos e deu muito trabalho para os dois amigos tirar o “escamoso” da água, mas depois de uns dez minutos eles finalmente conseguiram. De repente o Jair mergulhou na lagoa ficou alguns minutos embaixo d’água, voltou, respirou e tornou a mergulhar, fez isso umas três vezes e quando ia fazer novamente o Tunico perguntou se ele estava ficando louco no que o Jair respondeu falando de forma diferente; perti minha tentatura, o que? Disse o Tunico não entendendo, perti minha tentatura falou o Jair agora mais alto e nervoso, perti a tentatura troga. O Tunico, que era mais “experiente” em mergulho falou para o Jair, saia daí que vou procurar pra você e mergulhou em seguida. O Jair subiu ao barranco e ficou esperando enquanto o Tunico mergulhava uma, duas, três vezes e nada de dentadura, mas amigo é para as horas difíceis, então o Tunico teve a “brilhante” idéia ao mergulhar pela quarta vez, retirou a própria dentadura e quando subiu à superfície gritou para o Jair, achei e já jogou dali mesmo para o amigo que imediatamente colocou na boca, mas rapidamente percebeu algo diferente no encaixe da “mordedura postiça”. Tunico, não está encaixando direito, acho que quebrou. O Tunico, com a mão na boca respondeu, é puquê essa é a mia e começou a rir porem não esperava a reação do amigo com a brincadeira que nervoso arrancou-a e atirou na água. O Gilberto e o Firmino riam às gargalhadas com o episódio. A noite começava a descer mansamente quando os quatro amigos tomaram a estrada para voltar ao vilarejo de Santa Gertrudes, quase felizes, o Jair venceu a competição de pesca pelo tambaqui de quase oito quilos que fisgara, em contrapartida só poderia degustá-lo ele e o Tunico, se fizessem uma sopa, porque seus “dentes” ficaram no fundo da lagoa. Foi exatamente assim que aconteceu, podem acreditar essa não é uma história de pescador...

Aos leitores: Para entender o conto necessário ler a primeira parte que está publicada em minha página(PEDRINHO POETA)
Pedrinho Poeta - Pitangueiras-SP-
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