Ontem na calada da noite
Fui inesperadamente arrebatado
Por uma aspiração inexplicável

De viver feito os ciganos

Que de modo desavisado
Tomavam as ruas de minha cidade
Com suas pontes de ouro

Embora repousassem sobre o couro
Expunham os dentes reluzentes em sorrisos largos
E sobre os chapéus a aura da felicidade.

De viver que nem ciganos

Iguais àqueles que em caravanas
Visitavam a minha cidade
Na minha idade de criança

E com suas espontaneidades incontidas
Arrebatavam as pessoas e as praças
Que a mim me deixavam a boca aberta

E os coronéis morrendo de inveja
- eu que vivia a paz da inocência –
Tamanha era a felicidade espargida

De seus semblantes fartos devida
Sem sequer cogitar de recompensa
Pela simplicidade nos gestos expressa

Montados em suas mulas baias
Apeavam em todas as casas
Negociando seus enormes tachos de cobre
E de repente iam sem deixar seus endereços

E riam da peleja e do apreço
Que os citadinos têm à perpetuidade dos objetos
Embora continuem pobres
De liberdade de enlace e de afeto.

Vontade de ter vida de ciganos...

Curitiba, 21/09/2005