Última cena ou morte de um amor

Foi o último suspiro
a morte agonizante
de um amor que estrangulava
tão possessivo e matador
a última canção, o último lamento
de um amor combalido
por inseguro capricho
despedaçado ao vento

Sim...foi a última dor
num sorriso conformado
sem graça e sem cor
vencido pelo cansaço
num último grito abafado
pelas cinzas da união destruída
num peito ainda ardia
com o carinho incinerado
por não ter liberdade
morreu preso na saudade
do que seria essa vida

Ah, foi o último espinho
retirado das mãos
que espetava o orgulho
sangrando aquele verão
o último e mais rigoroso inverno
daquele amor de estação
que secou tanto as sementes
que nem a primavera mais quente
germinaria esse grão

A crônica da morte anunciada
pelo desrespeito inglório
que apagou a fagulha que brilhava
e minguou num orgasmo de ódio
um último mergulho no abismo
com o fardo do desespero
sem fôlego mas também sem medo
do amanhã sem o amado beijo
pois emergiria sem o peso

Foi um último choro sufocado
do pássaro abatido
entoou tristonho gemido
lamuriando o amor agora findo

André Ferreira
© Todos os direitos reservados