Um ser poeta ...
Divide-se em mil facetas, desdobra-se, veste-se de outra pessoa.
Como um ator no palco das ilusões, assume dores, amores, fracassos e vitórias alheias, fingindo não serem seus, mas que dizem muitas das suas verdades.
Fantasia-se de palhaço e, sob a maquiagem borrada que escancara seu falso riso, chora.
Esconde-se com zelo, sem deixar rastro, zomba dos que creem decifrá-lo.
Raposa astuta, diz que não quer o que aspira ansiosamente, desdenha o fruto do seu desejo.
Finge tanto, finge sempre, a ponto de acreditar ser quem não é.
E se dá ao luxo de escolher a cor do céu onde voam seus pensamentos. No teatro da vida, sem ensaios, sem amor-próprio, sem aplausos sequer, reserva para si o privilégio de sonhar sonhos impossíveis, e de realizá-los na sua poesia.
Nos momentos de lucidez, ainda que sem culpa, torna-se seu juiz e algoz. Finca no próprio peito a espada da razão, que fere, rasga, sangra sua alma, maculando seus mais secretos sentimentos.
Usa, abusa, da sua capacidade de sedução, derramando nas entrelinhas dos seus versos, seu verdadeiro eu.
© Todos os direitos reservados