Um ser poeta ...
Divide-se em mil facetas, desdobra-se, veste-se de outra pessoa.
Como um ator no palco das ilusões, assume dores, amores, fracassos e vitórias alheias, fingindo não serem seus, mas que dizem muitas das suas verdades.
Fantasia-se de palhaço e, sob a maquiagem borrada que escancara seu falso riso, chora.
Esconde-se com zelo, sem deixar rastro, zomba dos que creem decifrá-lo.
Raposa astuta, diz que não quer o que aspira ansiosamente, desdenha o fruto do seu desejo.
Finge tanto, finge sempre, a ponto de acreditar ser quem não é.
E se dá ao luxo de escolher a cor do céu onde voam seus pensamentos. No teatro da vida, sem ensaios, sem amor-próprio, sem aplausos sequer, reserva para si o privilégio de sonhar sonhos impossíveis, e de realizá-los na sua poesia.
Nos momentos de lucidez, ainda que sem culpa, torna-se seu juiz e algoz. Finca no próprio peito a espada da razão, que fere, rasga, sangra sua alma, maculando seus mais secretos sentimentos.
Usa, abusa, da sua capacidade de sedução, derramando nas entrelinhas dos seus versos, seu verdadeiro eu.

Maria Isabel Sartorio Santos
© Todos os direitos reservados