As Vozes da Memória

As Vozes da Memória

Eis que vezes me aquieto,

E solitário encontro com partes de mim,

Que vezes pareço desconhecer.

Mas que me conduz a busca de entender,

E assim eu me faço alvo de minha atenção,

E então percebo que não existem apenas imagens,

Que se reportam as lembranças,

Mas guardo em mim,

O som das vozes.

E ao perceber isto,

Minhas lembranças parecem mais reais,

Não apenas vejo, mas também escuto,

E no limite em havendo um perfume que marcou,

Sei que este traz reminiscências que pensava perdidas.

Mas no momento, me atenho as vozes,

Eis que os já idos, estão agora mais presentes,

Brinco comigo mesmo,

E busco me lembrar de cada voz,

E isto feito vem em seguida a imagem.

Nunca havia percebido o quanto o som

Pode ser tão marcante,

E com isto coisas simples, pequenas frases,

Prosas agradáveis

A forma pela qual me chamavam

Pelo nome ou apelido,

E os sujeitos idos se fazem presentes.

Eis que me vejo entre os dois lados,

Separados por uma espécie de portal,

Me divirto ao passar de lado para outro,

Indo e retornando,

Voltando ao ninho de meu corpo,

E sentido pensamentos e sentires alados,

Que parecem me trazerem chaves de portas

Que abro e fecho, no limite de mim,

Sinto uma saudade.

Uma saudade esquisita,

Pois que não se ajusta apenas ao ocorrido,

Mas de um futuro que poderia ter sido,

Ou coisa que o possa parecer,

Pois que não encontro palavras

Para descrever este sentir surreal.

Justamente eu, adepto da razão,

Amigo da dúvida,

Um estranho cético cheio de fé.

Vejo através de mim,

Sinto muito além dos meus sentidos.

Navego perdido, quero encontrar,

Mas como é agradável a sensação de fuga.

Poço de minhas pequenas contradições,

Consigo rir de mim,

E ante minha seriedade de temperamento,

Sinto-me desde sempre um velho que traz um menino,

E tendo sido um menino que nunca deixou de ser velho.

Olho para o meu próprio rosto,

Olho para face dos que dividem comigo a jornada da vida,

Eis que na solidão de cada um,

Creio que em parte vivemos momentos em comum.

Eis que não se trata apenas de ser individuo,

Mas ser membro, parte integrante de uma geração.

De modo que todo relativo,

Em dado momento pode se pensar absoluto,

Mas eis que sempre haverá apenas uma parte.

Pois que o Todo, apenas pressinto,

E se Ele me perguntasse,

Se almejo ser rei ou filho,

Eu que me tenho como servo,

Ficaria grato em ser filho.

Eis que o silêncio retorna,

E agora o suposto vazio está preenchido.

Escuto o som do coração batendo no peito,

E lá ao longe, ouço uma música

Que me convida para a distância

E é assim que me sinto tão próximo,

Neste perder-se onde me encontro.

 

20/052023

Gilberto Brandão Marcon