“ (...) Arranquei maio e junho inteiros (...). Foram dias imprestáveis, como mariposas com asas enrugadas, incapazes de voar. Restam apenas oito dias. Dentro de oito dias vou saltar do trem e descer na plataforma às seis e vinte e cinco. Então minha liberdade se desfraldará e todas essas restrições que vincam e enrugam – horários e ordem e disciplina, e estar aqui e ali exatamente na hora certa – se farão em pedaços. O dia estará surgindo enquanto abro a porta da carruagem (...). Tremerei.Irei me desmanchar em lágrimas. Então na manhã seguinte me levantarei ao raiar do dia. Sairei pela porta da cozinha. Caminharei pelo matagal. Os imensos cavalos dos cavaleiros fantasmas virão estrondosamente atrás de mim e de repente se deterão. Verei a andorinha roçar a grama. Irei me jogar num banco à margem do rio e olharei os peixes entrando e saindo da água pelo meio dos juncos. As palmas das minhas mãos ficarão marcadas pelos espinhos dos pinheiros. Irei desvelar e expor ali (...). Pois alguma coisa se desenvolveu em mim aqui, ao longo dos invernos e dos verões, nas escadarias, nos dormitórios. Não quero, como quer Jinny, ser admirada. Não quero que as pessoas, quando chego, ergam os olhos com admiração. Quero doar, ser doada, e solitude, na qual possa expandir minhas posses. “
Virginia Woolf – AS ONDAS
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