Essa mania de transferir versos,
torná-los submersos quando muito se fala,
mandados pelo correio aos mais discretos
signatários de poemas escuros que se calam
quando questionamos esse mundo absurdo,
que se perdem entre armas e armadilhas,
entre imensas ilhas de carne e osso,
esses olhos fundos da poesia insone,
que tem sede, que tem fome de pessoas,
de conhecê-las dentro de suas bolhas,
os últimos que mandei devolveram-mo
por falta de decoro,
havia muito sangue, muito choro,
palavras escolhidas nas ruas e quintais,
encharcadas de malícias e desejos animais,
espalhei-as ao vento assim como fazem aqueles
que nesta vida tem pouco do muito tempo que lhes foi dado,
tenho-as por aí visitando ermos lugares e pessoas mais ainda,
bebendo da água que desce ao pé da montanha,
sim, sei, são palavras estranhas,
algumas quase já sem cor,
a mais bela, se não me esqueço,
chamo-a de amor...
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