A cidade de minha infância

Para chegar à cidade de minha infância
Havia dois caminhos opostos:
Um desembocava na cidade alta;
Na baixa e abjeta, o outro.

Devido à fraqueza de meu minguado corpo,
Encurtava sempre a distância,
Para chegar logo à escola, no grupo,
Entrando pela baixa zona.

Era de fato baixa a parte baixa da cidade;
Baixa e pobre e sensual e abjeta.
Lá a zona do meretrício borbulhava à claridade
Dos dias, no vão de dobradiças e pernas meio abertas.

Também, ali embaixo, contudo,
Era a foz de todo o esgoto
Que descia subterrâneo, da cidade, por suas ladeiras.

Na calada da noite, descambavam os homens de bem, sisudos,
Pras ruelas inferiores e esvaiam-se nos calores do coito,
Despejando nas raparigas seus tesões pelas moças alheias.

Meu deus, quão eu era insignificante!
E grande e interminável o meu sacrifício.
Nos cômodos das casas o sexo explícito
E a isso estranho, meu corpo febril e ofegante.

Vencidas as horas vespertinas,
A polícia proibia a passagem a nós meninos
Pela zona baixa em que residiam as meninas
De vida fácil. Agora deles, os homens, outrora serafinos.

Todos os dias, ao término das aulas da escola,
Nós descíamos a rua rumo à fazenda,
Todavia, lá embaixo, as damas.

Quantas! Sem as roupas de baixo, brancas,
À toa, pétalas abertas, vermelhas oferendas
E coitados de nós, sem um centavo sequer pra esmola.