Cronica: VIVÊNCIAS DO COLÈGIO

VIVÊNCIAS DO COLÉGIO

Eu nunca entendi direito por que no início do meu segundo grau os acontecimentos foram tão controversos.

No primeiro ano do secundário, hoje primeiro do fundamental, se não me engano, eu tinha sido o único aluno da classe a ter passado direto sem ter ficado em nenhuma matéria e todas muito bem colocado, pois gostava de estudar e não tinha muito que fazer aqui nesta cidade.

Eu só tenho lembrança da minha vida só a partir do momento que, com dez anos, minha família se mudou para Curitiba. O ocorrido antes parece que foi um risco.
Eu não me lembro absolutamente de nada do que aconteceu até então, com exceção de alguns poucos flashes.

Agora não me perguntem o que aconteceu no segundo ano, aí já estava com doze anos, comecei a me sentir atraído por amigos já um pouco mais displicentes, não aqueles retardados que só sabem fazer bagunça, mas aqueles que pareciam que a escola era meio devagar e estavam sempre inventando algo que fosse mais interessante.

O meu aproveitamento caiu, é claro, já não era tão chegado em estudar e me virava sempre ali pela média necessária só para passar, sem o grande 'brilhantismo' do primeiro ano.

Lembro que um dia minha mãe foi chamada por algum motivo para conversar com a supervisora, provavelmente por minha transformação em relação ao primeiro ano e até aí tudo bem, mas no final ela falou assim para a minha mãe: A senhora sabe que o seu filho está fumando?
Ai eu levantei para dez, pois eu não fumava mesmo, e disse para ela que se ela me visse fumando ela poderia me expulsar do colégio. E saímos de lá, sem ela falar mais nada.

Mas eu acho que aquilo deu algum clique na minha cabeça e não sei por que, mas comecei a fumar (já deixei, felizmente, há muito tempo) logo em seguida e ela me pegando num recreio, veio ter comigo e eu falei para ela: ‘Agora eu estou fumando’.

E aí correu o tempo e quando eu estava no primeiro ano do cientifico, ou seja, três anos à frente, já então com quinze anos e no Colégio estadual, o maior do estado, com mais de três mil alunos matriculados, também aconteceu algo diferente.

Primeiramente um professor de matemática me chamou, assim como mais um outro aluno, para fazermos exercícios distintos no quadro e eu errei no meio do exercício, uma soma, que prejudicou o final e o professor, um senhor meio amargo e já com seus quarenta anos, chegou à frente da minha carteira e falou gozando:

Você não sabe nem somar!

O pessoal, claro, todos caíram na gozação.
A aula continuou e chegou um momento que o professor pos um novo exercício no quadro e perguntou quem gostaria de ir. Eu imediatamente levantei a mão, enfurecido, e fui fazer o exercício.

O professor se postou no final da classe enquanto eu o fazia e, com ele feito, ele comentou em tom de deboche novamente:

‘Aprendeu a somar, heim?’

E eu, na frente da sala e ainda em pé, respondi de pronto, aquela famosa frase, rsss, surgida naquela época, que errar era humano, mas permanecer no erro seria burrice.

Eu estava muito ‘invocado’ e um aluno fez em tom de jacota: Hummmm.

E eu perguntei qual que era a dele e um outro 'grandão' no final da sala falou que eu estava falando aquilo porque ele era pequeno e eu respondi, encarando todo mundo, que eu falava aquilo para qualquer um e na hora que quisesse. 

O professor não falou mais nada

A sala ficou um pouco em silêncio e ai logo bateu o sinal e eu fui quase carregado como herói para fora da sala. Mas eu estava era muito brabo. Não me lembro mais deste professor depois.

Mas eu conto este fato, pois aconteceu algo naquele ano, que infelizmente me deixou muito triste e abatido que foi o seguinte:

Na volta às aulas, das férias de junho, eu já estava todo enrolado na minha vida e sempre com amigos mais velhos do que eu e que iam direto lá ao colégio me buscar para zoar com seus opalas e, às vezes, eu estava ainda em aula e eles entravam no colégio e ficavam me chamando lá do corredor. E eu, infelizmente acabava indo e a minha vida escolar começou ai a descambar de vez.

Mas o fato interessante e surrealista é que quando da volta das férias de junho, eu já tinha tantas faltas que me desestimulei e acabei ficando mais uns quinze dias direto sem aparecer.

E quando voltei alguém me avisou que o diretor do colégio, que eu nunca nem tinha visto e nem sabia quem era, queria falar comigo e que era para eu ir até a diretoria, que eu, também, nem sabia onde era.

E lá fui eu, procurando, naqueles longos e silenciosos corredores, sem a mínima noção do que seria o motivo da chamada e para minha surpresa, alegria e decepção, ele queria me dar os parabéns, pois na reunião que eles sempre faziam no fim de um período, eu tinha sido muito elogiado por diversos professores, e eu acredito que até por aquele de matemática, e que me tinham em muita boa conta.

E lá naquela sala, que eu nunca tinha ido e nem sabia, até então, onde que era, aquele senhor me perguntou: E as notas como é que estão? E eu fui obrigado a dizer para ele que as notas até que estavam mais ou menos, mas que, infelizmente, eu já devia estar reprovado por faltas.

Sai daquela sala abatido e com a sensação que alguma coisa importante eu tinha perdido, mas não podia fazer mais nada.

O caminho, neste caso, eu já tinha traçado.


‘Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo’ Roselis Von Sass – graal.org.br

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