Como perdemos o tempo
monitorando as frações do tempo,
absorvendo alheios exemplos
que, dizem, nos tornam convencionais!
Como temos perdido as horas
trancafiados aqui dentro da outrora
de nós mesmos, limitados e superficiais!
Como somos tão perdulários
com o tempo fracionado em horários;
na desídia, sem criação de algo novo!
Vivemos embevecidos com os entretenimentos,
a aplaudir a felicidade virtual dos outros
sem notar que a vida se gasta nos momentos.
Sem notar que a vida escorre pelos instantes
Tal queda d'águas de rio caudaloso:
natural e imprevisível e sem cabelos!
Como abelhas que, cegas pela fumaça,
em favos de mel fenecem adocicadas
é nossa estada impregnada pelo excesso de zelo.
Quanto tempo temos estado
sujeitos ao preconceito dos ignorantes
que sombreiam o mundo já descolorido!
Quão longos percursos, desacordados,
temos feito sem vislumbrar que é de oblíquos instantes
que o ser humano se completa e se faz sentido!
Quanto tempo temos estado
separados por esta tênue linha
que aparta os homens de status!
Peregrinos em caminhos vigiados
por que a sociedade caminha
em incontinente fuga da felicidade.
Quanto tempo temos perdido
sem inventarmos (imaginar-criar-parir) idéias interessantes.
Simples recicladores de momentos já vividos!
Confusa platéia a aplaudir os sonhos fictícios
de astros e estrelas pagos para tal finalidade
que nos dão a vã sensação da decantada comodidade.
E assim, feito a lua e o sol no solstício,
vão-se a infância e a mocidade e a senilidade desabridas
pois que temos sido meros espectadores da vida.
Curitiba, 04/07/04
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