Dentro de mim tem um circo,
Onde tocam “Cerejeira flor”
Numa orquestra bem afinada,
Bailarinas enchem o ar de cordas,
Feixes de olhos se unem ligeiro,
Corações saltam, vivem e amam,
Mãos se unem e vibram e torcem,
O tempo é algo tão diferente
No circo dentro de mim.
 
Explodem os calhambeques atômicos,
Sobressaltam o globo da morte,
Balança o arame equilibrista,
Voam tão livres os trapezistas
Por cima do respeitável público;
E todos comem pipoca e guaraná,
Espalha-se aquele cheiro de chiclette
Em meio aos risos, gargalhadas,
De quem olha os trejeitos dos palhaços.
 
Dentro de mim está o circo,
Mas não alcanço aquelas mágicas,
Não sei jogar no ar tantos chapéus
Nem equilibrar pratos branquinhos
Ou rodopiar no picadeiro;
Apenas sou feliz quando me lembro
Que no mistério da lona tem amor
E que neste circo vive, eterna,
Grande paixão que um dia me marcou.

Walter Medeiros
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