Há em minh'alma um deserto...
arde o sol a pino e gela a noite ao vento...
Sopram, tempestades de areia...
O silêncio fez-se o amante
a tais horas...
e minha irmã solidão
abriu-me o piano plácido
em meio à sala argêntea.
Estou no recinto de mim mesma,
na aridez sem falas,
de minha peregrinação.
Ouço a voz que ressoa,
em assonâncias remotas,
vinda de algum lugar
onde não há lugar algum...
Aperta-me, a cela.
A cama de monja
me arrebata.
Tudo é seco!
Toda a placidez é luar desmaiado
sobre camélias pálidas...
Choca-me a murada sem flores,
a absoluta frieza...
Porém... que é tal fonte borbulhante
que me alimenta?
que são tais frêmitos de flores amordaçadas,
pela espinhenta, entremeadas?
É o deserto a florescer...
após cem anos...
A me dar de beber orvalho
gota a gota...
Ó Divino Amor que dessedenta
a peregrina!
ÉS TU SENHOR?
ENÍ GONÇALVES
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