A roseira, no presente ano, cobriu-se de muitas flores,

Flores que exalam um aroma delicado, detectável

Quando se aproxima o rosto das pétalas;

Alguns botões mal começaram a se abrir.

 

É preciso investigar este exemplo, interrogar a terra:

-Terra, qual foi o adubo com o qual alimentaste a roseira

Neste ano para que gerasse tantas flores,

Tão perfeitas em cor, tão plenas de aroma e amor?

Qual o alimento que me darás, terra,

Para que atinja a perfeição em flor e fruto?

Ou esconderás, ainda, no teu escuro odre o segredo

Da composição de meu destino?

Conhecê-lo-ei somente naquele dia no qual, totalmente em ti,

Já não tiveres mistérios para mim?

Serei, então, o alimento para outras rosas

E a tua resposta não me servirá jamais!

Pois que estas minhas mãos, então inermes e descarnadas,

Não a poderão brandir contra o muro

Que à minha frente agora se levanta.

Não! Não é assim que eu quero a tua resposta.

Basta de interrogar-te, terra, e contemplar abismos!

 

Porém, a resposta já foi concedida,

Pois a terra brotou cobrindo-se de ervas e de flores,

Perfumou os quintais e alimentou os pássaros.

Todas as árvores, segundo as suas próprias sementes,

Já estão crescendo; tudo aquilo que conforme as imutáveis leis

Foi plantado agora viceja, para sempre.

 

Ainda estou revolvendo meu solo.

Logo chegará a primavera.

José Cassais
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