" Como se poderá evitar a melancolia?"

" Como se poderá evitar a melancolia?"

“ (...) passei a maior parte do tempo na ladeira abaixo da nossa casa, onde o Leonard já plantou brincos-de-princesa, ou acocorada numa pedra, a ver o grande remoinho em espuma das ondas. Ontem, durante um passeio pessimista junto ao rio, o L. fez desta capacidade de estar feliz, primeiro em Asheham, depois em Tregerthen, o tema de uma dissertação sobre a natureza ilusória de todos os prazeres e de todas as dores (...) Deverei confessar que atribuo isto em parte à desgraçada da minha família, que me convidou para um jantar, a que fui?E também ao Noite e Dia, que o L. passou as manhãs e as tardes destes dois últimos dias a ler? Confesso que o seu veredito, pronunciado esta manhã me dá um prazer imenso: até que ponto se deve ou não dar um desconto é que não sei. Em minha opinião, o N.D é um livro muito mais maduro, muito mais acabado e satisfatório que o Voyage Out; e tem razão para o ser. O L. acha a filosofia muito melancólica. É uma filosofia que se harmoniza de mais com o que ele esteve ontem a dizer. Contudo, se pretende lidar com as pessoas em larga escala e dizer o que se pensa, como se poderá evitar a melancolia?”.


Virginia Woolf:  Diário – Primeiro Volume ( 1915-1926 / pág.152)
 Bertrand Editora – Tradução de Maria José Jorge

Eloisa Alves
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