Afasia

Debruçada na noite,
A solidão emaranha as estrelas,
Ofuscando seu delicado cintilar,
Ou são meus olhos já lúgubres pelo tempo
Que se acostumaram com as ausências
E as distâncias parasitas das existências abandonadas?
É esse hábito de saudade
Que o outono recende em meus pensamentos,
Que resistem em vir à tona,
Impotentes,
Desanimados,
Sufocados,
Paralisados...
E tritura-me o âmago sem complacência.
Não são medos, mas impotência
De andar lado a lado com o tempo
Para não perdê-lo
E não ser arrastada para suas teias.
A garganta fecha-se,
E a voz aniquila-se,
Estrangulada pelas sensações desditas.
As palavras, atônitas, não encontram caminhos,
Ficam enclausuradas nos ecos das desolações.
As mensagens estagnadas no vazio
Desencadeiam vivências modificadas
Que travam luta tenaz com o silêncio
Para romper a barreira imposta,
Atravessá-la com bravura
E transparecer em versos lapidados,
Distribuindo calor,
Desfazendo armadilhas da vida,
Escapando dos adeuses,
Controlando encantos de encontros,
Perfumando sonhos de menina,
Colorindo cenários cinza,
Perpetuando sortilégios nas paredes dos momentos.
 
 


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