Um dia, em que o delírio onírico invadiu minha mente,
Enxerguei diante do leito um anjo sombrio em seu manto.
Tomado de pavor, inebriado por tal sacrílego encanto
Julguei que ou minhas sinas eram pesadas ou estava demente.
Aleatoriamente, minha alma revia toda a vida, tremendo caos.
Aleatoriamente meu coração disparou: Era mesmo um anjo!
Tão belo, tão puro, tão triste... Mas que singular arranjo!
Não sentia algo sagrado nele, mas nenhuns intuitos maus.
Todo em negro, asas em sombras, o anjo se pôs a falar:
"Desejas tanto amainar vossa tristeza ao ponto da morte?
Queres dormir eternamente no escuro tumular tão forte?
Silenciar vosso corpo e alma e nunca mais ter um despertar?"
Calei-me sem resposta (Meu corpo tremia). Então, ele prosseguiu:
"Pois que vês a vida como algo doloroso e frustrante
E, mal sabes as delícias da escuridão eterna e enervante
A qual te aguarda na além vida..." (Algo que minh'alma nunca sentiu).
E tomando fôlego e coragem eu disse: "Não me apraz a vida
Se pude enxergá-la deveras vazia e assim sendo, é insanidade
Dizer que a espera profunda é quase a imortalidade?"
(O anjo observava silente, no olhar a tristeza incontida...).
Súbito, acordei de tal sonho e respirei. Não havia chegado o fim.
Sinto, porém, desde então que a vida, sendo afável ou dura,
Sem pressa nos encaminhará à eternidade escura.
Há em cada um de nós, um anjo das trevas, como há em mim...
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