Ele acorda as quatro,

Toma um gole de café,

Da um beijo na mulher,
Da um beijo no filho,
E lá vai João a pé,
Vai a pé até a estação,
Pula o muro,
Pois para o trem,
Não tem nem um tostão,
E lá vem a condução,
Cheia como sempre,
E lá vai João,
Entre trancos e empurrões,
Viaja uma hora,
A hora e meia,
Até chegar a Central,
Olha o relógio do edifício,
Pois com o salário que mal dá para comer,
Ter um relógio nem pensar,
E lá vem a condução,
Cheia como sempre,
E lá vai João,
Entre trancos e empurrões,
Vai pra zona sul,
Onde é porteiro de um lindo prédio,
Que por coincidência,
Ajudou na construção,
Hoje recorda com saudade,
Que ali já fez morada,
Já tirou onda de rico,
Passeando na calçada,
Aos domingos, parecia ate turista,
Vestido de calça Lee,
 
Óculos Ray-Ban,
E nas mãos,
O seu radinho não parava de tocar,
Hoje vive com sua amada,
Sua eterna namorada,
Que com ele sófre calada,
Enquanto houver saúde,
Enquanto houver disposição,
João irá trabalhar,
Nem que seja por amor.