ABDUZIDO
 
Eu não sei até onde as minhas emoções vão me levar, mais o mundo está triste desde a segunda feira. O céu e o mar eram só uma coisa cinza e as areias da praia em novembro fulguravam como poeira de luz, salpicando em meu corpo como poeira de luz como se fosse um açoite de eletricidade motriz Então, imaginei-me em um mundo sem cor e, eu ainda menino, correndo à procura de minha mãe para ao seu lado me refugiar da escuridão e que me livrasse da sova  do tempo que em mais de meio século depois ainda sinto o estupor que me causou aquele terrível testemunho da passagem devastadora dos anos...
      Eu gostaria hoje, nesse exato momento de profunda reflexão de ser abduzido pela nave do tempo e assim como no filme “o efeito borboleta”, novamente beirar os trinta anos, em plena forma, com um sorriso largo nos lábios, o coração repleto de esperanças, correr, voar, sublinhar nas nuvens num coração trespassado pela flecha de cupido e olhar para o lado, saber que tomas a minha mão e, como se fosses o próprio azimute do amor, darias a direção e tudo isso pudesse ser verdade, a vida, um dia ensolarado, o mar com um tom azul e suas espumas brancas como a neve, e um tempo que não ocorreu enquanto estávamos juntos, a vida que passou por todos mais que guardou dla o melhor para nos dois, imagine...
      Mais a nave passou ao largo de nós e somente vimos aquele brilho incandescente provocar um grande clarão no céu cinzento e uma chuva fina caiu sobre mim  que desperto me encontrei inconsolavelmente só, esperando um milagre, um amor que nem seu nome eu sei, mais Balzac afirmou que: “a paixão vive por meio de contrastes” e assim, me dissipo de tantos sonhos e chego até a pensar: haveria alegria no ultimo olhar, de um sentimento perdido nas noites insones de um viajante solitário do tempo, que vaga em suas memorias passadas e avança sobre os calendários de datas inimagináveis e, apesar, ainda quero te encontrar, nem que seja um ultimo olhar na penumbra solitária de uma alcova que se chame meu amor...
   

 

AIRTON GONDIM FEITOSA
© Todos os direitos reservados