É preciso ter coragem
Para por o dedo na ferida
Tocar sua parte mais funda
A mais dolorida

É preciso mais
Saber enxergar, querida
Aonde bate o coração
Até onde vai a vida
O tênue fio da pulsação

E muito mais ainda
É preciso ter coragem
Para pensar e secar
Esta ferida
Inda que doa mais
Que a própria vida
Ainda que seja
Para dela extrair
O âmago, o suco
A coisa mais ardida

Que inflama por dentro
E, queimando no peito
Sangra, abre-se em flor
E, florida, brota do chão
Da pele, da voz,
Do grito e no olhar
Aberta

Ferida aberta
E no entanto encoberta
Vergonha, êxtase noturno
Medo
Amor proibido

04/12/1977

 

Uriel da Mata
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