Quem tem ouvidos, ouça

Eu ouvi gritos na noite passada
Gritos de um calar soluçante
Nas gargantas dos pobres diabos
Que perambulam pelo toque de Israel.

Foram três dias de pura escuridão
Três dias necessários pra purificação
De um povo preso ao mal intumescido
Repreendido no olhar de um criaça.

Milhões de corpos jogados
Ao vento da terra santa
Que já não encanta nem as pedras
Que caem do céu nebuloso.

Foram anos de bombas salgadas,
Séculos de um orgulho estendido
Sobre a areia seca manchada
Pelo sangue da humilhação.

Mas foram apenas bombas salgadas
Que tiraram gritos daqueles
Que já estavam mortos
De espírito e alma.

Eu quiz ver os olhos daquele que pousou
Enfiado na coleira de um dragão.
Mas ele os manteve seguros
Enquanto me contava do oriente.

Foram guerras civis aquelas
Em que alguém perdeu a dignidade
E nem buscou mas paz pra humanidade
Pois coisas assim surgem
De almas desesperadas.

Mas eu ouvi gemidos numa casa vazia
Foram os de uma mulher
Morta pelas mãos de um soldado.
Tentei toca-la
Mas ela é fruto de algo que desconheço.

Foram ainda três dias aqueles
Em que as estrelas cairam do céu
E cessaram as bombas dos céculos
Pra incendiar momentos de terror,
Por momentos de dor.

Muitos não puseram a cara pra fora
Muitos nem tiraram seus corpos dos túmulos
Pra ver que o dia já era noite
Nos três dias em que o homem pagou
Séculos de ignorância.

Quem tem ouvidos, ouça
Mateus 11,15