"Começo a ansiar pelo calor da lareira, pela intimidade e pelos braços de uma pessoa.”

"Começo a ansiar pelo calor da lareira, pela intimidade e pelos braços de uma pessoa.”

 (...) Não posso expor minha absurda e violenta paixão à sua compassiva complacência. Ela também diria uma ‘ história’. (...) A quem posso confiar a urgência de minha própria paixão? Louis é demasiado frio, demasiado universal. Não há ninguém aqui entre estes arcos cinza, e esses pombos arrulhantes, e estes jogos divertidos e esta tradição e rivalidade, tudo tão habilmente organizado para impedir que nos sintamos sós. Contudo sou ainda assaltado enquanto caminho por repentinas premonições do que está por vir. Ontem, passando pela porta aberta que leva ao jardim privado, vi Fenwick com seu taco erguido.  O vapor do samovar subia no meio do gramado. Havia fileiras de flores azuis. Então, de repente desceu sobre mim o obscuro, o místico sentimento de adoração, de completude que triunfou sobre o caos. Ninguém viu minha composta e concentrada figura parada diante da porta aberta. Ninguém percebeu a necessidade que eu tinha de oferecer meu ser a um só deus; e perecer, e desaparecer. O taco dele desceu; a visão se desfez.”

“ Deveria eu buscar alguma árvore? Deveria eu trocar essas salas de aula e essas bibliotecas e a larga página amarela em que leio Catulo pelos bosques e pelos campos? Deveria eu caminhar sob as faias ou perambular pela margem do rio, onde as árvores se encontram na água, enlaçadas como amantes? Mas a natureza é demasiado vegetal, demasiado insípida. Ela tem apenas sublimidades e vastidões e água e folhas. Começo a ansiar pelo calor da lareira, pela intimidade e pelos braços de uma pessoa.”

                                           Virginia Woolf - AS ONDAS

Eloisa Alves
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