A Paz dos Exaustos

A Paz dos Exaustos

 

Velhos rostos, faces cansadas,

Onde dias atrás habitou a juventude.

Quantos dias?

Sabe-se lá, pois que os vivem a se perder no tempo.

E na verdade, o dia é apenas um incômodo

Entre o efêmero e o eterno.

E como é simples encontrar magia no efêmero,

E como é distante encontrar graça no eterno.

É tempo demais...

Mas parece valer os pequenos fragmentos,

Como que fotografias momentâneas

A estampar sua imagem em nossas memórias

Como se fossem um para sempre.

Um ‘para sempre’ cheio de magia e graça,

Justamente por não se perder

Em meio aos entulhos do cotidiano que nos assolam.

Um ‘para sempre’ em que fugaz amor se eterniza,

Pois que já disse sábio poeta,

“Que seja eterno enquanto dure’.

Pois que ocorrido o instante

Este já não é mais

É como que botão de rosa em seu auge

Que cai em correnteza preguiçosa de riacho

E diante do olhar se distancia

E por estranho que pareça,

Quanto mais longe fica,

Mas perto parece habitar o coração.

Ora, eis que está é a mazela humana de existir

Não sabemos ser,

Não sabemos ler as entrelinhas da existência

Somos tolas borboletas enebriadas por luz artificial.

Eis que a luz não está fora de nós,

Mas é lume que espreita a interioridade de cada um.

Pois que esta luz se mantenha viva,

Que ela não deixe morrer o infante que nos habita.

Pois que neste ir e vir do tempo,

Parece ser nos anos de senilidade,

Que encontramos a criança que há em nós.

Experiência solitária, experiência de cada um,

E como que numa espécie de milagre,

Nos dividimos em dois seres: um infante e um idoso.

Eis que o velho em seu olhar exausto

Vê sua parte menino correr inocente

Sem nada saber, apenas a correr,

Como se tivesse asas nos pés.

E então em um lugar perdido,

Tudo parece fugir

Não tem chão, não tem teto.

É uma profunda garganta de abismo,

É um céu sem fim ponteado de constelações.

É a vida cansada de viver,

E entre a paixão e a morte,

Parece escolher falecer em paz,

Almejando que aquele fragmento perdido de memória,

Seja um ‘para sempre’ de eterna paz,

A travesseiro para descansar a consciência,

O leito que acolhe o corpo

Que liberta alma,

Como que o soldado

Deixa de lado sua armadura,

Pois que cansou da luta,

Cansou de si e dos outros

Mas parece caminhar em direção a luz que acolhe.

E o velho rosto, a máscara do tempo,

Se faz novamente juvenil

E então sorri, e este fragmento

Emoldurado por uma sensação de liberdade

Cria asas invisíveis

Guarda dos olhos os segredos,

Mas os revela ao coração.

 

26/08/2022

Gilberto Brandão Marcon

Gilberto Brandão Marcon
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