Qdo o fim da linha me chegar
depois de uma viagem perto do fim
se me perguntares o que lamento ou assusta
não direi, que é a morte que chama por mim.
 
O que me assusta e lamento
não é chegar ao fim da linha,
é ter feito esta viagem contra o tempo
numa corrida quase louca, sem viver
saltar degraus sobre degraus sem parar,
ter sonhos pra fazer… e não fazer.
 
Qdo me apontaste o dedo e disseste:
- Tu não prestas!
Baixei os olhos e continuei a corrida,
uma corrida desenfreada e sem sentido
tentando chegar à meta do quase, quase,
quase, quase chegando lá,
tropeçando neste quase, quase, quase céu
ignorando o dote que a natureza me concedeu: a Vida.
 
O que me assusta e lamento
não é a morte que me bate à porta;
é ter vivido uma vida quase morta,
ignorar o dom que a natureza me concedeu
desperdiçar a vida que a vida me deu
gastando-a numa corrida sem parar
numa viagem que está prestes a terminar.
 
O que me assusta, lamento e magoa,
não é chegar ao fim da linha,
tão-pouco sentir a morte que me bate à porta;
É este viver, esta corrida sempre à toa,
esta viagem de olhos postos no chão,
é ter caído, magoado e calar,
dizer sim, qdo queria dizer não,
obedecer e dizer amén, sem querer,
conhecer o inferno antes do céu,
ignorando o dote que a vida me concedeu: Viver!
 
É este o meu lamento antes de morrer!

 

santos silva
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