A Canção do Universo

No vazio vivia um enthar,
Vivia sozinho a pensar,
E em seu pensamento vago,
Olhando a imensidão, fez em sua mente, um brilho emanar
E com este brilho, surgiu no seu conceito a solidão.
Pôs-se então a gritar,
Foi a primeira vez que pôs-se sua voz a entoar.
O grito ecoou no vazio e se perdeu,
 
Tudo então novamente no silêncio ficou.
E novamente no silêncio outro grito seu entoou,
Do primeiro era diferente, assim como um terceiro era divergente.
O enthar se recolheu,
Sob seu pranto padeceu,
E com o clamor do choro, vibrou a muito seu corpo.
Tal força o fez rachar em dois,
Os dois ainda unidos não mais pensavam como um,
 
Agora duas consciências se divergiam,
Os pensamentos um do outro ouviam,
As eras passaram e por eras unidos debatiam,
Até que o rasgo da fenda entre os dois, completamente separou.
Suas mentes não podiam mais se escutar.
Então o silêncio no vazio voltou a reinar.
 
No vazio havia dois enthars,
E os dois olhando a imensidão,
Em seus pensamentos um brilho veio a emanar.
Sozinhos se sentiram, pois não mais estavam a falar.
Para não se sentirem só, um pendão entre os dois, começou a se formar.
Por se esforçar, as suas formas começaram a trincar,
E entre os dois seus fragmentos no vazio vieram ocupar.
E com seus pendões, seus fragmentos tentaram agarrar,
 
Mas a cada toque, mais um novo fragmento se viu a outro espaço ocupar.
No centro dos fragmentos, começou uma voz entoar.
Ouviu-se novamente o primeiro grito que o enthar forçou a ressoar.
Os enthars com seus pendões, tentaram o fragmento agarrar,
Por sua voz a tão distante de novo puderam escutar,
Nos seus movimentos, que lentam muitos eram,
Mesmo assim, sobre o fragmento, suas mãos puderam pousar.
Com as mãos dos enthars erguidas, estando a se aproximar,
 
O fragmento se amedrontou e o segundo grito foi retoado.
Foi quando as mãos dos enthars haviam se chocado,
O fragmento dentro do casulo formado, se calou.
E mais fissuras, nos seus corpos, o vazio encheram,
Nas suas mãos mais fissuras havia e um brilho dela se desprendia.
 
O fragmento sentiu a sufocar,
Com o aperto dos enthars, percebeu seu corpo esquentar,
Não aguentou e rugiu forte com o medo da morte,
As fendas das mãos enthars estavam a aumentar.
Do fragmento um brilho distinto rendeu a exalar,
Pois seu lamento jazia forte a manifestar cada vez maior.
O grito do fragmento ressoou ao piscar de olhos, partiram-se os enthars, 
Em muitos pedaços eles ficaram, e fragmentos inumerados o vazio ocupavam.
 
Residiam no espaço vários fragmentos incontáveis, a pensar como um enthar.
Cada fragmento no vazio movimentando sem direção, estavam a se chocar,
Tocavam uns aos outros e seus pensamentos se trocavam,
Ao se tocarem mais outros pequenos se desprendiam,
E os pequenos fragmentos fracos eram seus pensamentos,
Se pondo a empurrar, 
Uns contra outros, assim revivendo seus movimentos,
Que ao mesmo tempo pareciam ali parados,
Cada fragmento permaneceu quieto, por dentro calado.
Mesmo estando no compasso lento, 
Trilhando por vezes seu caminho traçado.
 
E o vazio se tornou novamente o silêncio que estava.
Os fragmentos, só se sentiram, e para cada um, um outro gritava,
Mas nem todos respondiam,
Apenas se juntavam a aqueles com a voz mais clara.
Os de voz intensa, de cada cem desses fragmentos,
Gritantes por dentro os incendiava.
Maiores e mais brilhantes do que os outros,
Seu brilho maior se intensificava.
 
Os fragmentos reluzentes atraídos se sentiram,
E os fragmentos menores opacos por eles estavam atraídos,
Os reluzentes de encontro a outro se foram,
Os opacos, os seguiram,
Os reluzentes transitaram mais rápido no vazio,
E os opacos devagar apenas podiam ver seu rastro de brilho.
Os opacos tentavam correr,
Mas os reluzentes quase de sua visão estavam a desaparecer.
 
Foi quando todos os reluzentes se juntaram,
E se abraçando começaram o vazio frio aquecer,
Seus corpos começaram a unir em um,
E a sua luz em um instante começou a se estender,
Os opacos chegaram e viram aquela cegante luz,
E a ali parados prostraram a admirar o que ali estava a acontecer.
 
O novo corpo reluzente começou a possuir mais calor,
Aqueceu demais, até seu corpo na mais sujeitar seu ardor,
Feridas e brechas seu corpo começou a desenvolver,
Que ele próprio tentava fechar, 
Mas suas partes começaram a crescer,
E mais brechas começaram a rachar,
Começou a inchar, 
E quando tentou se encolher,
Depressa uma onda interna começou a liberar,
Até que explodiu junto dos opacos, que estavam a lhe envolver.
 
Os opacos pouco viram da explosão,
Suas vidas no vazio se perderam.
E outros fragmentos menores no vazio espaço ocuparam
Mas estavam seguindo um novo caminho diferente,
Seguiam-se em formações quase circular,
Onde nas bordas estavam os opacos, 
E nos centro os reluzentes,
 
Haviam vários conjuntos
De quase círculos assim,
Vários fragmentos opacos,
Com um determinado fim.
Estavam a circundar um fragmento reluzente,
Em um compasso de uma ciranda crescente.
 
Cada ponto reluzente era cercado,
Por várias distâncias e direções pelos fragmentos opacos.
Nenhum deles estava na mesma linha de caminho,
Mas se concentravam a trilhar a mesma estrada ao redor do brilho.
Outros menores com medo neles se aconchegaram,
E junto dos maiores um mesmo caminho trilhavam.
Faziam mesmo movimentos, 
E na ciranda continuaram,
E esta ciranda por eras reina no vazio profundo,
A mesma da qual pertence nosso mundo.

Viçosa