PAI TOMAZ - O poeta de Assis

PAI TOMAZ - O poeta de Assis

Foi em Santa Terezinha, em 1927,
Que a semente foi plantada.
Lugar longe, lugar quente,
Gravidez não planejada.

Depois de muitas luas
Se deu sua chegada,
Retornando a essa terra
E iniciar nova jornada.

Ali nasceu, cresceu,
No meio da baianada.
Sonhava com vida longa
E resolveu pegar a estrada.

Tinha 17 anos 
e de lá se debandou
Não tinha nome certo,
Tião era seu " apelidadô".

Saiu em busca do sonho
Como todo "migradô",
Depois de meses de estrada
Na cidade grande chegou.

Era tudo diferente,
Tudo grande, assustador,
Mas não intimidava 
O menino sonhador.

Nem nome assinava,
Não conhecia o alfabeto,
Quanto mais juntar letrinhas
Pra ser um bom "escrevinhadô".

A vida foi complicada
Não tinha nome, não tinha nada
Só a fé em Nosso Senhor.

E na fé foi caminhando
Seguindo o vento a seu favor,
No mobral conheceu as letras
E com elas se encantou.

Dai foi em busca de si,
Achou um nome de seu agrado
E de Tião, 
Senhor Tomaz se tornou.

As letras lhe abriram portas
E ai nunca parou.
Lutou como touro bravo
E muitos obstáculos superou.

Era negro, analfabeto, pobre e do sertão.
Gente assim na terra nova, 
Nao era bem quista,
Mas isso não o estagnou.

Estudou Monteiro Lobato
E com ele se encantou,
Fez de tudo que pôde
E até na faculdade se formou.

Sabia da História de cabo a rabo
E a muitos ensinou, 
Além das histórias de vida,
Daquelas as vezes doidas
Que em sabedoria tranformou.

Os anos foram passando 
E uma familia se criou.
Nosso Senhor do Bonfim
A ele presenteou
com dois filhos muito espertos
Que com muitos sorrisos lhe "recheou".

Tinha gosto por poesia.
E muitas coisas proseou...
Falava de jardins floridos,
Passarinhos cantantes,
Musica dançante,
Gente alegre.

De angustia e tristeza nunca falou.
Isso não lhe cabia
Pois era puro jardim em flor,
Mesmo com os grandes espinhos,
Contra eles nunca pestanejou.

O tempo foi passando
Os filhos ele criou.
Continuou com sua vida,
Mão na terra...dando mais vida
Pra outras vidas
que a natureza mantinha.

Muitas árvores foram plantadas.
Muitas sombras foram amadas,
Nos dias de sol, dias de calor.
Passarinhos agradeciam
Cada sombra dada pelas mãos desse senhor.

E assim a vida foi passando,
O tempo correndo sem trégua.
Missão quase cumprida,
Sentava na varanda, 
Admirava as flores, as aves, a serra e a vida.

Aos poucos percebeu que a vida ia se esvaindo,
Já que era a hora Divina, 
Assim aceitou.

Logo logo ia voltar pra sua terra.
Falava com pai, falava com mãe,
Aquela gente toda que cá não estava mais,
Nem na carne, nem no osso,
Mas no coração, na essência que carregava consigo daquele passado que passou.

E assim aos poucos foi-se indo,
Despedindo-se dessa esfera.
Segurava aos poucos na mão do seu povo
Que há muito lhe recebera na Terra.

E o grande dia chegou, depois de muita luta,
Muita guerra, sempre ao Pai agradeceu por sua estada nesta Terra.

Fechandos os olhos serenos,
Chamou pelo seu jardim.

De novo uma nova viagem
Junto a Nosso Senhor do Bonfim,
O baiano arretado do sertão da Bahia
Seguiu nova caminhada, retornando aos céus, 
deixando a gaiola aqui.

Livre!
Retornando a Santa Casa Sagrada,
Do Pai que lhe criou, acompanhou e iluminou.

Para aqueles que cá ainda estão
Fica a saudade do poeta de Assis,
Que ouvia o Sermão dos pássaros 
E agradecia às árvores,
Todos os fins de tarde,
Pelo lindo dia que findava.

Dizendo amém e indo dormir.
Por Flavia Bortolaia de Miranda
Ao meu Pai: Tomaz Almeida de Miranda. * 1927 +2015.

04.08.15

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