Aos Desiludidos

 

Perdi-me nos olhares petrificantes da Femme Fatale bela.

Todas as minhas energias, toda minha vida, foram alvo de um roubo

Onde levaram meu tudo, e, ironicamente, em um único arroubo

Em que drenaram as tintas da existência e deixaram em branco a tela.

 

Em uma noite de lua cheia em que o amor chegou ao ápice extremo,

Conheci aquela que dominou minha alma de tal formidável forma,

Que até hoje, quando julgo não possuir mais nada, nada conforma

A perda e fico paralisado no tempo, apático e apenas tremo...

 

Era uma górgona sedutora, magnífica, em tudo perfeita...

Cativou meus sentimentos de uma maneira arrebatadora, intensa...

Em mim, houve guerra, conflito interno, confusa desavença

E sinto que tal era sua pretensão, sinto que com isto ela se deleita!

 

Após vê-la com toda a volúpia e beleza estonteantes, fiquei pasmo!

Um misto de amor e desejo me atingiu em cheio, como uma flecha.

Viste um ponto fraco em mim e impiedosamente exploraste a brecha.

Gritei, enlouqueci, fui alvo de um fantasmagórico espasmo...!

 

Este amor o qual me nulifica é o amor romântico distorcido.

Ou talvez não; é mais como um profundo, místico amor platônico.

Tudo o que eu sentira antes fora efêmero, estúpido, irônico,

Mas foi bem feito a mim por subestimar e agora estou perdido!

 

No vasto universo, és somente tu... Sinto que sou um mero ser lívido...

Caminho às cegas em meio a uma estrada nebulosa, prenhe de brumas.

Sufoco lentamente em tragos hediondos de agonia em espumas

De um oceano de angústia e saudades que em nada é vívido...!

 

Hoje sei que sou um farrapo, ínfimo, muito pior do que um inseto.

Amei-te tanto, usei todo o amor que tinha e, contudo, perdi o meu norte!

Esta vida que possuo hoje é uma reles espera pela morte...

Melhor teria sido nem nascer, ter sido um natimorto feto...

 

Estas górgonas do amor: Víboras mágicas com mortal peçonha,

Tiram do fraco todo o significado, sua alma, em suma, petrifica...

Todo este labirinto onde vago não tem fim, cada vez mais se ramifica

E morrendo de amor, sem morrer, estou fadado à esta dimensão medonha!